[blog] Um recado da Terra nos 50 anos do “Dia da Terra”

Hoje faço 50 anos… bom, no fundo, tenho alguns bilhões de anos a mais, mas no dia 22 de abril de 1970, começou-se a comemorar o meu dia, o Dia da Terra.

Nesse aniversário de meio século, me vejo com sentimentos contraditórios.

Por um lado, vejo as coisas mais claras; meu olhar até mesmo alcança o horizonte longínquo e enxergo montanhas antes escondidas pela funesta nuvem da poluição[1]. Nesse momento, animais estão andando e migrando sem restrições[2] causadas por bichos de metal a toda velocidade e uma quantidade exorbitante de seres humanos perambulando por todos os cantos do planeta.

De onde estou, me percebo envolvendo e unindo tudo que me forma: humanos, animais silvestres, montanhas, rios, clima… É estranho para mim pensar nessas categorias, pois vejo tudo como um sistema interconectado e equilibrado.

Por outro lado, vejo um vírus causando sofrimento físico, mental e emocional nos humanos. Vejo cada qual nas suas cavernas de concreto, a maioria restrita ao indispensável. As incertezas e adversidades trazem ansiedade, medo e oportunidades, o que pode gerar reflexões e mudanças.

Percebam que não é preciso de tanto para viver bem, quantas coisas supérfluas vocês almejam, juntam e depois jogam fora. Coisas simples, que vocês humanos, tomavam como garantidas, são as que mais fazem faltam: um abraço apertado, um café com amigos, um brinde à vida em meio a gargalhadas…

Uma vez escutei um ditado que humanos gostam de usar: “A união faz a força”. Acredito nisso, e vocês?

Esse vírus me mostra que há bastante solidariedade, mas vejo também tanto ódio, tanta discórdia por trás de discursos que refletem a intolerância ao outro, como se houvesse o “diferente”… Tenho que confessar, tenho dificuldade de entender. Todos Homo sapiens são iguais, e o vírus, assim como eu, não distingue essa coisa que escuto de cor, raça, idade, religião, gênero.

Não seria bom se daqui em diante virmos mais solidariedade cotidianamente em vez de competições aguerridas? Não seria excelente se os humanos se tornem mais empáticos em vez de se voltarem para acusações e julgamentos? Não seria perfeito se encontrassem um estilo de vida que valorize mais e proteja de forma eficaz a natureza, as montanhas, as florestas, os rios, bem… a mim?

Aliás, isso me faz pensar em como será quando os humanos puderem sair das suas caixas. Voltarão à “normalidade” insustentável anterior? Correrão para se saciar daquilo que se viram privados durante um tempo em um frenesi que não dará conta? Ou será o início da mudança do estilo de vida?

Photo by The New York Public Library on Unsplash

Lembrem-se que todos os caminhos são escolhas, e não apenas daqueles que governam o que vocês chamam de países. E ao pensar e escolher para onde ir depois dessa confusão criada pelos próprios homens, lembrem-se do que fez vocês sorrirem, do que era essencial, e do que vocês entenderam ser importante durante esse momento de tensão.

E lembrem-se de mim: o seu planeta, a sua casa.

Estou aqui e a conexão nem precisa estar boa para vocês me ouvirem.

Assinado: Planeta Terra